Em quem podemos confiar...
No tempo em que não havia automóvel, um burro de carga curtia imensa amargura em relação aos companheiros de trabalho num famoso palácio real. Reparando-lhe o pelo maltratado, as profundas cicatrizes do lombo e a cabeça tristonha e humilde, aproximou-se um formoso cavalo árabe, que se fizera detentor de muitos prêmios e disse orgulhoso:
Triste sina a que recebeste! Não invejas minha posição em corridas? Sou acariciado por mãos de princesas e elogiado pela palavra dos reis!
O infortunado animal recebia os sarcasmos resignadamente. Outro soberbo cavalo, de procedência húngara, entrou no assunto e comentou:
Há dez anos quando me ausentei da pastagem vizinha, vi este miserável sofrendo rudemente nas mãos do bruto amansador. É tão covarde que não chegava a reagir, nem mesmo dando um coice. Não nasceu senão para carga e pancadas. É vergonhoso suportar-lhe a companhia.
As observações insultuosas não haviam terminado, quando o rei penetrou o recinto em companhia do chefe das cavalariças.
Preciso de um animal para serviço de grande responsabilidade, informou o monarca, um animal dócil e educado que mereça absoluta confiança. O empregado perguntou:
Não prefere o árabe, Majestade? Não, não! É muito altivo e só serve para corridas em festejos oficiais sem maior importância.
Não deseja o húngaro? Não, não. É bravo, sem qualquer educação.
Decorridos alguns instantes de silêncio, o soberano indagou: Onde está meu burro de carga? O próprio rei puxou-o carinhosamente para fora, mandou arrumá-lo com as armas resplandecentes de sua casa e confiou-lhe o filho ainda criança, para longa viagem. E ficou tranquilo, sabendo que poderia colocar toda a sua confiança naquele animal...
Assim como nesta fábula, também acontece na nossa vida. Em todas as ocasiões temos sempre grande número de amigos e de conhecidos, mas somente nos prestam serviços de utilidade real aqueles que já aprenderam a importância de servir sem pensar em si mesmo.