Lavando a consciência...

O ano era 1727. Em uma pequena cidade no interior da Inglaterra.

Chovia muito naquele dia. Na livraria, a única da cidade, um senhor em avançada idade, entre crises de tosse, pois sofria de asma, colocava livros em algumas caixas e ajeitava outros nas estantes, preparando a loja para ser aberta. No balcão um jovem com 18 anos, lia compenetrado e sequer notava as crises de tosse do pai.

- Sammuel, - disse o senhor - hoje é dia de feira. Você poderia ir em meu lugar?

O jovem Sammuel não demonstrava nenhuma reação.

Mais uma vez o velho, já colocando a caixa de livros à porta, pediu ao jovem:

- Sammuel, está na hora do cocho. Por favor, vá à feira pelo menos dessa vez.

E mais uma vez não obteve resposta. Apanhou a pesada caixa e partiu.

O ano era 1777. Em uma pequena cidade no interior da Inglaterra.

Chovia muito naquele dia. Próximo à feira, estaciona uma elegante carruagem e dela desembarca um senhor. Elegante, sem se proteger caminha até uma abandonada barraca, e ali permanece. Passam-se horas. As pessoas que circulam estranham aquele excêntrico senhor, imóvel junto à uma abandonada barraca.

Ao final da manhã, o homem recoloca o chapéu e volta a carruagem.

Ao chegar à hospedaria, a senhora que o recebe lhe indaga:

- Dr. Sammuel, por que ficar esse tempo todo na feira, debaixo de chuva?

- Minha senhora, há exatos cinquenta anos, meu pai morreu, vitimado por uma crise de asma. Eu, displicente e preguiçoso, nada fiz que pudesse ter lhe ajudado. Espero que com esta humilhação pública eu consiga lavar minha consciência, livrando-a deste enorme e pesado fardo.